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segunda-feira, 15 de julho de 2013





pode ser que seja em cheio
pode ser que esteja ao meio
pode ser que te estonteie
pode ser um desnorteio

pode ser que as placas caiam e esmaguem os teus rins
pode ser que seja o fim
mas pode ser que ainda nem os tiros, nem os roubos, nem os giros, nem a falta de norte e nem mesmo o sangue que escorre pelas tuas coxas façam-me dizer que te quero assim:

- Embora. 

Foto por: Tuane Eggers

domingo, 7 de abril de 2013

Desfalecei


Joga-te ao vento e resplandece tuas asas com as cores destes novos ares.
Existe seiva, mas não há raízes suficientemente grandes para perfurar teu muro cada vez mais cinzento.
Existem flores, mas não há fragância suficientemente doce para que eu perca o nojo para que eu perca o asco.
E existem espinhos, mas não há mais sangue que valha a pena nesse teu corpo pequeno.
E então o outono.

Foto por: Tuane Eggers

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013



Na hora do abraço, eu paro, eu penso, eu quero, eu posso. Eu preciso. Na hora do abraço eu abro bem os braços e aposto contigo quanto tempo tu aguentas sem se sufocar. Tu perdes sempre e teu pecado é sempre pelo excesso: se não fosses tão exagerado talvez pudesses tirar um cochilo. Na hora do abraço eu caio de cara no chão, mas não tem problema - ou tem - mas a gente não morre. Na hora do abraço só peço-te que sejas quente. Só peço-te que sorrias - exatamente assim! - e feito José Dias fale-me de teus superlativos que tanto gosto.

Pertíssimo.

Foto por: Tuane Eggers

domingo, 19 de agosto de 2012

Ô, Ventania!

às vezes se eu grito bem alto bem que tu me entendes, mas eu quase nunca choro para não acordar teu sonho de bebê. São nesses dias cor-de-cinza, que tu adentras o quarto velho levando abaixo a porta e a casa, todo fantasiado de veludo escuro, escuro! (mas de um brilho tão intenso), dando piruetas e tocando o mesmo sino. Imediatamente acordo de meus pensamentos tolos e baixíssimos e me rendo ao encanto bruxo de teu cheiro tão intenso. Eleva-me em teus ombros então que o ar puro aqui de cima tem poderes de fazer sorrir! Mas não te preocupas, ele jura que não mata! Só pede a todos que tomem muito cuidado com isso, pois em terras de rainha tola todo vento um dia vira furacão. E assim seja.

Foto por: Tuane Eggers

domingo, 15 de julho de 2012

O ninho

O cheiro de café recém passado, os biscoitos que já sei que lhe aprazem mais: bruxarias que tomam o peito e extravazam as mãos das Marias que regem a casa. Afastam o frio com o fogo de suas lareiras e no crepitar de suas chamas dançantes enxergo a mim mesmo aconchegado no colo do pai. Tuas carinhosas mãos que agarram-me e prendem-me ao hercúleo peso desse nosso lar. Se hoje nossas feridas sangram desembestadas é o preço que se paga pela ingratidão nossa de cada dia: tu bem o sabes pois foi o meu próprio sangue que te ensinou. Sorriremos, por isso lhe recupero: passo as mãos pelos teus cabelos negros e enrolo entre meus dedos tuas lágrimas de criança já grande demais para ser arrastada comigo – choramos juntos! Olho firme para essa tua dor e desejo devorá-la para que nunca mais ouse bater de frente contigo novamente – então ela gargalha, pois sabe que não cabe a mim mandá-la embora. Não desisto: exconjuro de ti todo o mal e se coleciono mandalas coloridas é apenas para ter certeza de que lhe darei, ao menos, um pouquinho de paz. Enfeitiço-te então. Marco-te com amor, filho meu! (E não queira dizer outra vez que isso é uma mentira). Se tu não entendes as línguas sacras que uso para lhe abençoar, não lhe culpo, mas não me satisfaço. Sei bem que os filhotes de homem são os últimos a abrirem os olhos, mas antes de dormir rezo, tremendo de medo, para que tu não morras cego demais. Ao ver teus olhos de desespero, divido contigo o segredo último que poderia lhe dar: nosso único mandamento (mesmo que tua surdez teimosa insista em ignorar) é que jamais ouse duvidar da força desse abraço. Eu lhe dei amor, minha prole. E é somente isso que lhe cabe dar.



Foto por: Tuane Eggers

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Quase dois


Pois agora dá-me licença que eu preciso voar.
Estou abrindo as asas, meu amor!
Para nunca mais voltar?
Shhhh!!!!
Não pergunta-me agora!
O tempo também voa
E já passou da nossa hora
Mas um dia
Se couber a nós dois
Finalmente
Se encontrar,
Certamente sabermos.
Se não,
não.
Partiremos no primeiro vendaval.
Teus vestidos já estão passados?
Hoje iremos assim.
E então estamos sonhando.
E estamos sorrindo.
E estamos acenando.
E estamos sumindo.
E estamos vivendo.


Foto por: Tuane Eggers

domingo, 1 de julho de 2012

O resultado de um bebê que caiu no chão


Três partes de crânio arrebentado no primeiro quarto à esquerda.
O resto deste pulmão por aqui.
Os tecidos mortos devem ser jogados no incinerador.
E as duas patas traseiras direto no lixo.
Alguns chamaram-no de aborto, mas poucos sabem que lhe foi necessário apenas trocar um fígado por um novo contrato de permanência de vida.
Ele foi então meticulosamente compartimentado:
Cada pedaço cortado com precisão cirúrgica necrotérica desrespeitosa
Foi enfim guardado em um sem fim de caixas sem etiqueta alguma
Por um descuido daquela maldita enfermeira que deveria organizar o lugar
Hoje percebemos que uma parte vital de seu cérebro foi perdida
Dizem que foi mandada embora que sumiu em viagem que se perdeu e nunca mais voltou.
Mas sossega.
Um pedaço a menos não faz diferença alguma aqui onde eu estou.

Foto por: Lucas Heymanns