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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Ao pó tornaremos.


Mas Deus sorriu e me disse: aquele que queima suas pontes não pode reclamar de não ter para onde voltar. O cavalo não passa selado duas vezes e se teu medo de cair é mais forte do que o vento que gela o teu corpo inteiro, talvez seja uma boa ideia hoje você ficar. Eu não voltarei nunca, mas pode ficar tranquilo: toda matéria viva um dia apodrece - E isso é tudo de melhor que agora tu poderias me dar.

Um abraço não se recusa, meu caro. Aprenda da pior forma possível.

Foto por: Tuane Eggers

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Sobre o homem

Lança-te sobre mim.
Dou-te apenas o direito de me soterrar.
Reservo-me o direito de um dia abrir meus  olhos
E ver-me escurecido pela sombra do teu peito.
Quando teu ar entrar em em mim por esses tubos de oxigênio
Viverei enfim.
E então plantaremos uma árvore.
E então escreveremos um livro.

Foto por: Tuane Eggers.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Carnívoro.


Quando não tiveres mais necessidade de jogar as genitálias em cima da mesa, retorne. Aqui ninguém se importa com teu suco, pois teu soco já estava há muito tempo guardado. Vai para fora, cachorrinho! Quem late fora de casa alcança a lua mais depressa. Corre antes que ela desapareça, pois já passa da minha hora de fechar as malditas janelas e os teus olhos feios podem apenas vigiar o melhor dos seus cordeiros. Olha o lobo ali! Ops... Que seja doce.

sábado, 9 de junho de 2012

Não torture a velha.


Se eu gritar socorro nem mesmo tu suportarás tranquilo.
Se eu cair de joelhos na tua frente e confessar-te o quanto te preciso, não posso lhe garantir quando poderei caminhar novamente.
Se você me carregasse no colo você morreria de dor.
Sei que falas que quer provar também as minhas lágrimas, como gosto de lamber as suas (elas dão um toque adocicado ao terrível sabor das minhas), mas você não sabe como são venenosas as gotas que escorrem pela minha face e amargam-me os lábios.
Tu não entendes coisa alguma do que se passa ou se entende esse teu sorrisinho quente não passa de medonho sadismo.
Tu não sabes o que fala quando não me dizes nada e nem tem ideia do efeito que me causa colocar-me rendido e bem criado logo abaixo dos teus pés. Então eu grito para que o desespero se mantenha distante, pois sei que alguém histérico não entraria jamais pelas portas do teu céu.
Essa minha vida de coisinha miserável pode até ser saudável para as páginas que sangram tinta e poesia com uma fluidez de cachoeira, mas tenha pena dessas pobres senhorinhas que estão ali se balançando com olhos de quem não sabe mais o que fala. Chega mais perto delas, se suas pernas não caírem talvez lhe deem colo. Elas querem saber teu nome. O nome delas é Lucidez, Calma e Paixão (que possuída por uma legião de mil demônios insiste em dizer que seu nome é Sofrimento).  
- Não tente antecipar-se.
- Não pretenda compreender aquilo nem mesmo eu sei o que é.

(mas me abraça mesmo assim que um dia essa tempestade toda ainda há de engolir a minha vida.)

O réu

Mas em algum lugar do mundo um noturno ladrão de abraços sorri com o coração quente e a consciência pesada. Por favor, peço a todos que não o julguem! Ele não é uma pessoa de todo má. Digo de todo, pois um pouco demoníaco todo mundo é. Entendam que a noite estava fria e o seu coração também. Entendam que a respiração profunda e entrecortada, o cheiro dos corpos que suam em repouso e o ronronar de gato adormecido eram mais potentes que todos os chocantes fios daquele lençol-cadeira-elétrica-térmico. Imagine agora que um braço quase envolve sua cabeça – você bem gostaria que assim o fizesse – e que seus olhos frente a frente transbordam as informações que não pertencem ao reino da palavra – se eles não estivessem fechados de bebida e de cansaço. O único fato é que o peito abre-se feito um travesseiro e o coração com suas batidas miudinhas sussurra lá de debaixo da camisola – Vem tu. Vem tu. Vem tu. Na calada da noite nem mesmo os pássaros ousam fazer barulho, portanto cada suspiro sagrado é segredo compartilhado e diante disso tudo só lhe resta dobrar-se de fé. E é aí que a sua cabeça pende para frente... Bem devagarzinho. De maneira quase involuntária – especialmente quando o fino fio do teu sonho se romper - a cabeça pende como a de um bicho pedindo carinho aos pés de mamãe. Não se ousa respirar demais para não assustar o seu peito que então nos acolhe durante segundos de sereno violeta. O cheiro no nariz, o sussurro no pé do ouvido o balanço calmo de sua respiração e, enfim, o maior sorriso do mundo estampado no rosto do rapaz - Naquele momento te juro que a gente brilhou, mesmo que teus olhos jamais o tenham visto.
Por isso digo-te com toda a convicção que ele não é culpado. Sua inocência justifica-se nos princípios bíblicos do amor eterno e é de lei que se o coração queimou naquele dia, nosso sangue agora é vinho santo de milagre. Não o crucifiques, por favor. Se por acaso o condenares a morte nas suas cadeiras elétricas ou deixá-lo preso para sempre debaixo do seu pesado calcanhar, talvez devesse também pisotear como quem dança sobre as tulipas todas que ninguém cuidou e acertar suas contas com os céus que fazem os filhos como o pai que os criou: perdidos.


Foto por: Tuane Eggers

terça-feira, 5 de junho de 2012

Solidão é palavra que escreve-se com lágrimas.

Estremeço todo só de pensar que daqui há um tempo talvez tu não estejas mais aqui. Não estou sendo pessimista, portanto não atirem-me a próxima pedra. Se seu desejo sincero é o de me punir, por favor, utilize um machado certeiro como o câncer que lhe come o colo. Estranho é sentir o chão desparecer e perecer diante do caminho que já nem existe mais. Eu juro que quis gritar, mas as estátuas de sal que me cercam não foram feitas para me ouvirem chorar e diluírem-se em meio ao meu amargo pranto.
- Para que elas servem então?
- Para enfeite.
- Não são belas as suas estátuas.
- Mas elas são... Nada. Elas não são nada.

E eis que seus finos braços de sal escorrem por entre os dedos do abraço que eu não ganhei. Bato palmas, arranco os cabelos fio a fio e imploro que essa tua gelidez seja parte de seus planos de me matar de felicidade! Pois nesses momentos de silêncio profundo crio uma voz que se assemelha a tua e que me faz queimar os dedos novamente.
- Engole teu choro que nele há mais enxofre do que nessas bestas todas.
Respira fundo.
E então eu sorrio e todo mundo fica mais contente.

Foto por: Tuane Eggers