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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013



Na hora do abraço, eu paro, eu penso, eu quero, eu posso. Eu preciso. Na hora do abraço eu abro bem os braços e aposto contigo quanto tempo tu aguentas sem se sufocar. Tu perdes sempre e teu pecado é sempre pelo excesso: se não fosses tão exagerado talvez pudesses tirar um cochilo. Na hora do abraço eu caio de cara no chão, mas não tem problema - ou tem - mas a gente não morre. Na hora do abraço só peço-te que sejas quente. Só peço-te que sorrias - exatamente assim! - e feito José Dias fale-me de teus superlativos que tanto gosto.

Pertíssimo.

Foto por: Tuane Eggers

domingo, 19 de agosto de 2012

Ô, Ventania!

às vezes se eu grito bem alto bem que tu me entendes, mas eu quase nunca choro para não acordar teu sonho de bebê. São nesses dias cor-de-cinza, que tu adentras o quarto velho levando abaixo a porta e a casa, todo fantasiado de veludo escuro, escuro! (mas de um brilho tão intenso), dando piruetas e tocando o mesmo sino. Imediatamente acordo de meus pensamentos tolos e baixíssimos e me rendo ao encanto bruxo de teu cheiro tão intenso. Eleva-me em teus ombros então que o ar puro aqui de cima tem poderes de fazer sorrir! Mas não te preocupas, ele jura que não mata! Só pede a todos que tomem muito cuidado com isso, pois em terras de rainha tola todo vento um dia vira furacão. E assim seja.

Foto por: Tuane Eggers

domingo, 15 de julho de 2012

O ninho

O cheiro de café recém passado, os biscoitos que já sei que lhe aprazem mais: bruxarias que tomam o peito e extravazam as mãos das Marias que regem a casa. Afastam o frio com o fogo de suas lareiras e no crepitar de suas chamas dançantes enxergo a mim mesmo aconchegado no colo do pai. Tuas carinhosas mãos que agarram-me e prendem-me ao hercúleo peso desse nosso lar. Se hoje nossas feridas sangram desembestadas é o preço que se paga pela ingratidão nossa de cada dia: tu bem o sabes pois foi o meu próprio sangue que te ensinou. Sorriremos, por isso lhe recupero: passo as mãos pelos teus cabelos negros e enrolo entre meus dedos tuas lágrimas de criança já grande demais para ser arrastada comigo – choramos juntos! Olho firme para essa tua dor e desejo devorá-la para que nunca mais ouse bater de frente contigo novamente – então ela gargalha, pois sabe que não cabe a mim mandá-la embora. Não desisto: exconjuro de ti todo o mal e se coleciono mandalas coloridas é apenas para ter certeza de que lhe darei, ao menos, um pouquinho de paz. Enfeitiço-te então. Marco-te com amor, filho meu! (E não queira dizer outra vez que isso é uma mentira). Se tu não entendes as línguas sacras que uso para lhe abençoar, não lhe culpo, mas não me satisfaço. Sei bem que os filhotes de homem são os últimos a abrirem os olhos, mas antes de dormir rezo, tremendo de medo, para que tu não morras cego demais. Ao ver teus olhos de desespero, divido contigo o segredo último que poderia lhe dar: nosso único mandamento (mesmo que tua surdez teimosa insista em ignorar) é que jamais ouse duvidar da força desse abraço. Eu lhe dei amor, minha prole. E é somente isso que lhe cabe dar.



Foto por: Tuane Eggers

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Quase dois


Pois agora dá-me licença que eu preciso voar.
Estou abrindo as asas, meu amor!
Para nunca mais voltar?
Shhhh!!!!
Não pergunta-me agora!
O tempo também voa
E já passou da nossa hora
Mas um dia
Se couber a nós dois
Finalmente
Se encontrar,
Certamente sabermos.
Se não,
não.
Partiremos no primeiro vendaval.
Teus vestidos já estão passados?
Hoje iremos assim.
E então estamos sonhando.
E estamos sorrindo.
E estamos acenando.
E estamos sumindo.
E estamos vivendo.


Foto por: Tuane Eggers

domingo, 1 de julho de 2012

O resultado de um bebê que caiu no chão


Três partes de crânio arrebentado no primeiro quarto à esquerda.
O resto deste pulmão por aqui.
Os tecidos mortos devem ser jogados no incinerador.
E as duas patas traseiras direto no lixo.
Alguns chamaram-no de aborto, mas poucos sabem que lhe foi necessário apenas trocar um fígado por um novo contrato de permanência de vida.
Ele foi então meticulosamente compartimentado:
Cada pedaço cortado com precisão cirúrgica necrotérica desrespeitosa
Foi enfim guardado em um sem fim de caixas sem etiqueta alguma
Por um descuido daquela maldita enfermeira que deveria organizar o lugar
Hoje percebemos que uma parte vital de seu cérebro foi perdida
Dizem que foi mandada embora que sumiu em viagem que se perdeu e nunca mais voltou.
Mas sossega.
Um pedaço a menos não faz diferença alguma aqui onde eu estou.

Foto por: Lucas Heymanns

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Ao pó tornaremos.


Mas Deus sorriu e me disse: aquele que queima suas pontes não pode reclamar de não ter para onde voltar. O cavalo não passa selado duas vezes e se teu medo de cair é mais forte do que o vento que gela o teu corpo inteiro, talvez seja uma boa ideia hoje você ficar. Eu não voltarei nunca, mas pode ficar tranquilo: toda matéria viva um dia apodrece - E isso é tudo de melhor que agora tu poderias me dar.

Um abraço não se recusa, meu caro. Aprenda da pior forma possível.

Foto por: Tuane Eggers

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Sobre o homem

Lança-te sobre mim.
Dou-te apenas o direito de me soterrar.
Reservo-me o direito de um dia abrir meus  olhos
E ver-me escurecido pela sombra do teu peito.
Quando teu ar entrar em em mim por esses tubos de oxigênio
Viverei enfim.
E então plantaremos uma árvore.
E então escreveremos um livro.

Foto por: Tuane Eggers.