Mas em algum lugar do mundo
um noturno ladrão de abraços sorri com o coração quente e a consciência
pesada. Por favor, peço a todos que não o julguem! Ele não é uma pessoa
de todo má. Digo de todo, pois um pouco demoníaco todo mundo é. Entendam
que a noite estava fria e o seu coração também. Entendam que a
respiração profunda e entrecortada, o cheiro dos corpos que suam em
repouso e o ronronar de gato adormecido eram mais potentes que todos os
chocantes fios daquele lençol-cadeira-elétrica-térmic o.
Imagine agora que um braço quase envolve sua cabeça – você bem gostaria
que assim o fizesse – e que seus olhos frente a frente transbordam as
informações que não pertencem ao reino da palavra – se eles não
estivessem fechados de bebida e de cansaço. O único fato é que o peito
abre-se feito
um travesseiro e o coração com suas batidas miudinhas sussurra lá de
debaixo da camisola – Vem tu. Vem tu. Vem tu. Na calada da noite nem
mesmo os pássaros ousam fazer barulho, portanto cada suspiro sagrado é
segredo compartilhado e diante disso tudo só lhe resta dobrar-se de fé. E
é aí que a sua cabeça pende para frente... Bem devagarzinho. De maneira
quase involuntária – especialmente quando o fino fio do teu sonho se
romper - a cabeça pende como a de um bicho pedindo carinho aos pés de
mamãe. Não se ousa respirar demais para não assustar o seu peito que
então nos acolhe durante segundos de sereno violeta. O cheiro no nariz, o
sussurro no pé do ouvido o balanço calmo de sua respiração e, enfim, o
maior sorriso do mundo estampado no rosto do rapaz - Naquele momento te
juro que a gente brilhou, mesmo que teus olhos jamais o tenham visto.
Por isso digo-te com toda a convicção que ele não é culpado. Sua inocência justifica-se nos princípios bíblicos do amor eterno e é de lei que se o coração queimou naquele dia, nosso sangue agora é vinho santo de milagre. Não o crucifiques, por favor. Se por acaso o condenares a morte nas suas cadeiras elétricas ou deixá-lo preso para sempre debaixo do seu pesado calcanhar, talvez devesse também pisotear como quem dança sobre as tulipas todas que ninguém cuidou e acertar suas contas com os céus que fazem os filhos como o pai que os criou: perdidos.
Foto por: Tuane Eggers
Por isso digo-te com toda a convicção que ele não é culpado. Sua inocência justifica-se nos princípios bíblicos do amor eterno e é de lei que se o coração queimou naquele dia, nosso sangue agora é vinho santo de milagre. Não o crucifiques, por favor. Se por acaso o condenares a morte nas suas cadeiras elétricas ou deixá-lo preso para sempre debaixo do seu pesado calcanhar, talvez devesse também pisotear como quem dança sobre as tulipas todas que ninguém cuidou e acertar suas contas com os céus que fazem os filhos como o pai que os criou: perdidos.
Foto por: Tuane Eggers
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