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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O beijo


Tum! Tudo estava daquele jeito que não existe palavra para definir: nem claro, nem escuro; nem quente, nem frio; nem tudo, nem nada. Vazio. Só existia ela, fitando-me com seus olhos morenos.
Ela não se mexia, não sorria, não falava e nem respirava. Apenas despia-me com seu olhar penetrante. Sua graciosidade imponente me deixava paralisado; eu sabia que se à quisesse deveria caminhar até lá. Ela, porém, estava convicta a não mover-se um centímetro e esperar-me pelo tempo que fosse preciso. Não tinha pressa.
Seu corpo inteiro era um convite aberto: cada curva milimétricamente projetada para minhas aventuras; o olhar forte, que fazia com que eu precisasse me segurar para não cair de joelhos ali, diante dela; sua delicadeza lânguida e estática, como uma estátua de gelo; seus lábios corados e pulsantes destacavam-se de tudo naquele ambiente. Pediam para ser provados e prometiam um prazer supremo, como eu jamais provara em minha vida. Ela inteira me atraia como o pólen atrai a um inseto, de tal maneira, que já não me era possível sequer raciocinar. Arrisquei um passo em sua direção.
Ela gostou. Gostou tanto, que me deu um sorriso seco, apenas para me encorajar. Foi o bastante: incendiou minha alma, meus sentidos e minha razão. Eu queimava inteiro e, alucinado, não pude conter meus pés que se apressaram em cobrir a distância que ainda nos separava.
A cada passo, um novo incêndio. Ela era meu único desejo. Finalmente estávamos cara a cara e eu pude, enfim, tocar a sua pele. Para o meu espanto, era fria: fria como apenas a palavra fria poderia saber... Ou talvez eu estivesse quente demais, mas o único fato era a sua gelidez. Era gostosa. Era uma sensação única e viciante. Eu, que antes queimava, agora me sentia mais ameno. Eu me sentia completo no contato de nossas mãos.
Eu precisava de mais. Muito mais. Uma vez provado aquele prazer, eu não poderia mais deixá-lo. Puxei-a para junto de mim, colando nossos corpos, e beijei-a com toda a sofreguidão de um cão prestes a morrer de fome, ao devorar as sobras que lhe salvariam a vida. Beijei-a.
Sua boca era ainda mais alucinante que sua pele. Delirei de prazer. Éramos completos: éramos gelo e fogo unindo-se em um só. Ela roubava meu calor e me dava sua frieza. Devorei-a e fui por ela devorada! Estávamos tão fundidos que eu já nem sentia mais meu corpo, nem minha alma, nem eu mesmo, nem nada. Eu estava indo para o mesmo vazio que nos cercava... O que era bom, muito bom.
Foi assim que ela me seduziu e me obteve para sempre. Foi assim que eu soube que nunca mais eu sairia de perto dela. O resto já não me importava mais. O resto eram apenas as lágrimas de meus amigos, o fedor das velas e meu corpo atropelado.